Os Cristadelfianos - Em que acreditam e o que pregam - cap 7 - Quem Será O Rei?
QUEM SERÁ O REI?
Se o reino de Deus de Israel estava condenado ao fracasso em virtude da pecaminosidade humana, como pode surgir alguma coisa melhor? Será que a solução está nas palavras intrigantes: “aquele a quem ela pertence de direito ”? As palavras foram ditas ao dissoluto rei Zedequias, no final do seu
reino. Se as palavras estivessem isoladas ficaríamos deixados à conjetura e, consequentemente, ficaria alguma dúvida sobre seu significado. Mas acontece, porém, que as palavras “aquele a quem ela pertence de direito”, são elas mesmas um eco de uma promessa antiga das Escrituras, uma que faz parte do fio de ouro que atravessa a Bíblia.
Recorde-se que o neto de Abraão, Jacó teve doze filhos, cujos nomes foram dados às doze tribos descendentes deles. Jacó morreu no Egito, mas antes desse evento, ele chamou os seus doze filhos e pronunciou bênçãos. Não há dúvida de que essas bênçãos foram profecias inspiradas por Deus esboçando algo do futuro para cada uma das tribos. Entre estas bênçãos está a seguinte promessa específica para a tribo de Judá:
“O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão.” (Génesis 49:10, N.V.I.)
“Aquele a quem ela(coroa) pertence” e “aquele a quem ele(cetro) pertence” têm uma semelhança entre si. Cada uma das citações fala de um rei que haveria de vir. A profecia em Génesis diz que aquele que é prometido viria da tribo de Judá. As palavra de Ezequiel foram dirigidas a um rei de Judá. Quem será esta personagem real? Como pode ser dito que ele tem o direito de reinar? O que podem significar as palavras “a ele as nações obedecerão”? A chave está nas palavras de Deus acerca da coroa: “a ele a darei”. O rei reinará por decreto divino.
Não se pode ler essas coisas ou refletir seriamente sobre elas sem sentir que são de grande importância para Israel e para as nações. Elas lembram-nos sobre as promessas feitas a Abraão.
Essas promessas, também, envolvem a descendência de Abraão e as nações gentias. Citamos mais uma vez as palavras da última promessa que Deus fez a Abraão:
“A tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra.” (Génesis 22:17 – 18)
É o descendente de Abraão a mesma pessoa que “a quem ela(coroa) pertence”, e “a quem ele(cetro) pertence”? Podemos colocar estas questões no contexto de uma Promessa Real feita ao rei David, que coloca as questões para além de dúvida. Aqui está o plano de fundo para a Promessa Real. David sabia que ele governava para Deus. Ele tinha um aguçado sentido de serviço a este respeito e, acima de tudo ele queria ver a verdadeira adoração de Deus florescer no reino. A essa altura, David
tinha construído uma casa de cedro em Jerusalém e, aparentemente de consciência pesada, queria construir um local permanente para o culto do tabernáculo ao colocar a arca da aliança numa estrutura sólida. O rei foi impedido de prosseguir esta obra, embora louvável que pudesse ser, pelas palavras do profeta do Senhor, entre as quais se encontra o seguinte:
“Farei levantar depois de ti o teu descendente, que será dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino. Esse me edificará casa; e eu estabelecerei o seu trono para sempre... O confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será estabelecido para sempre.”
(1 Crónicas 17:11 – 14).
Esta é a aliança de Deus com David, e corresponde em importância com a que é feita a Abraão. Na realidade, juntas elas formam a aliança na sua totalidade, porque elas incluem o grande propósito de Deus, descrito no Novo Testamento como as coisas “a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo”. Temos agora os seguintes elementos nestas promessas acerca do rei:
Ele...
possuirá a cidade dos seus inimigos;
trará bênçãos sobre todas as nações da terra. (Génesis22:17, 18)
é aquele a quem ele(cetro) pertence. (Génesis 49:10)
é descendente de David. (2 Samuel 7:12)
reinará sobre o reino de Deus. (2 Crónicas 17:14)
é aquele a quem ela(coroa) pertence de direito. (Ezequiel 21:27)
Além disso, sabemos que este rei vitorioso não tinha chegado até à época em que Zedequias foi deposto por Deus e entrou em cativeiro. Ele ainda estava por vir. A esperança da vinda do Rei foi
acarinhada pelos cativos na Babilónia. Os homens fiéis refletiam sobre as promessas de Deus e ansiavam pelo seu cumprimento. Entre estes homens de esperança estava o bem conhecido profeta Daniel. Não tão bem conhecido é um notável sonho dado por Deus em que Daniel estava envolvido como intérprete. O sonho era uma ante-visão de acontecimentos históricos importantes. As circunstâncias em que aconteceu foram as seguintes.
Cerca de seis séculos antes de Cristo, Nabucodonosor era rei na Babilónia, e a sua glória e império eram amplios. Ele se questionava sobre o que aconteceria aos seus vastos reinos após a sua morte.
O seu sono foi perturbado por um sonho muito vívido que tanto o impressionou que ele acreditava que tinha algum significado para ele. Na manhã seguinte, reuniu os seus encantadores, feiticeiros e astrólogos, e apresentou-lhes uma tarefa impossível. Ele disse que tinha tido um poderoso sonho, mas tinha esquecido do que se tratava. Será que eles poderiam dizer-lhe o sonho? e também a sua interpretação? Os sábios ficaram confusos. As exigências do rei não lhes deixou nenhuma margem para a sua habitual fantasia baseada em ideias que lhes eram apresentadas. Ele não lhes disse nada, e os ameaçou de morte caso eles falhassem na sua missão!
O sonho e as suas consequências eram de Deus. Ele tinha criado a ilustração perfeita da impotência do homem para recordar o passado que não era conhecido ou delinear o futuro desconhecido. A sabedoria dos sábios tinha sido reduzida a nada.
Entre os sábios estava Daniel. Ele tinha sido direcionado para as suas fileiras quando ele estava preso. Daniel aproximou-se do comandante da guarda do rei e pediu a suspensão da execução. Enquanto isso, ele e os seus três companheiros judeus procuraram a ajuda do Senhor em oração, e a Daniel foi revelado tanto o conhecimento do sonho assim como o seu significado. Estes então foram dados a conhecer por Daniel na presença do rei, cuja surpresa deve ter aumentado, enquanto ouvia a descrição lúcida do sonho e a sua interpretação parte por parte.
O Sonho de Nabucodonosor
O rei no seu sonho, tinha visto uma estátua metálica brilhante e assombrosa de um homem. A cabeça era de ouro, os braços e tórax eram de prata, o ventre e as coxas eram de bronze, as pernas eram de ferro, e os pés eram uma mistura de ferro e de barro. Dentro deste cenário estático foi
injetado um drama maior. Uma pedra do lado da montanha projetou-se através do ar, sem intervenção humana, e feriu a estátua nos seus pés.
A estátua caiu no chão e foi quebrada em pedaços. A pedra então reduziu todas as peças a pó que foi então levado pelo vento. A pedra foi deixada sozinha e depois cresceu e cresceu até que encheu toda a terra.
Não admira que Nabucodonosor sentisse que o sonho teria algum significado! Daniel começou a revelar o significado da imagem e da Pedra como Deus lhe tinha revelado. Resumidamente, o sonho era um panorama da história do mundo até o momento em que o reino de Deus seria estabelecido na terra. E termina assim:
“Nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre.” (Daniel 2:44)
Grande parte da história era em relação à terra de Israel e as nações ao seu redor, especialmente os impérios que dominaram o Oriente Médio. Três partes da imagem são interpretadas no livro: a cabeça de ouro representava a Babilónia (Daniel 2:31), os braços e peito de prata representavam o império Medo-Persa (Daniel 8:20), e a parte inferior do corpo e as coxas retratavam o império Grego de Alexandre o Grande (Daniel 8:21). Daqui resulta que as pernas devem ter simbolizado o império seguinte, o que se seguiu aos gregos. Este deve ser o império Romano, cuja importância para o mundo ocidental, seria difícil sobrestimar. Talvez as pernas representassem as seções oriental e ocidental do império. E que dizer então dos pés de ferro e barro?
Quando o império Romano desapareceu não houve império que o sucedesse que abrangesse a mesma medida do seu território. Apareciam impérios de vez em quando, mas nenhuma se aproximou de Roma em importância ou em extensão dos seus territórios. De fato, podemos concluir a partir do sonho que segundo a intenção de Deus nenhum império se lhe seguiria.
No entanto, de passagem, deve-se notar que, embora as partes da imagem sejam sucessivas, de acordo com a interpretação, também representam na totalidade “os reinos dos homens”. É bem possível que, de alguma forma, não revelada no sonho, elas terão algum tipo de coerência no momento em que a pedra fere a estátua. Analisaremos este raciocínio mais à frente no capítulo.
Nabucodonosor, deve ter ficado muito satisfeito por ter o seu sonho reconstruído por Daniel e através da interpretação olhar o futuro através do corredor do tempo. Houve, no entanto, um aspecto
do sonho que, embora seja claramente de grande importância, não foi totalmente desenvolvido por Daniel. A pedra representa quem ou o quê?
No sonho, a pedra era o poderoso meio pelo qual o reino de Deus na Terra, iria ser estabelecido. Digamos de uma vez que a pedra é Cristo. Sabemos isto porque Cristo aplica o título a si mesmo. Na última semana da sua vida, quando ele estava sendo pressionado por todos os lados pela intenção dos governantes judaicos em destruí-lo, Cristo proferiu uma parábola falando da próxima queda do estado vassalo judaico por causa das suas repetidas rejeições da Palavra de Deus. Os governantes perceberam o significado da parábola e com veemência se opuseram a ela. Cristo, então, perguntou-lhes a questão devastadora:
“Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?” (Mateus 21:42; Salmo 118:22 -23)
Os governantes eram os supostos construtores de Israel, mas eles não conseguiam encaixar Cristo
na sua estrutura. Cristo estava dizendo a eles que era a estrutura que iria cair, mas a Pedra que eles estavam rejeitando era a pedra fundamental da obra de Deus! Cristo é a Pedra.
Cristo era a pedra preparada “sem auxílio de mãos” (como lemos em Daniel 2:34). Na verdade, ele veio da montanha da humanidade, mas ele foi “cortado sem auxílio de mãos”, pois ele não tinha pai humano, era o Filho de Deus. Mais do que isso: ele foi ressuscitado dentre os mortos pelo mesmo poder divino e concedido o dom da imortalidade pelo Pai. Além disso, quando ele voltar a esta terra, como ele seguramente o fará, o tempo será da escolha de Deus:
“Ao qual(Jesus) é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade.”
(Atos 3:21)
Cristo o Rei
Esse é o momento em que Deus irá restaurar o Seu reino na Terra. Não há ensino mais claro em toda a Bíblia do que aquele que nos fala sobre o Reino mundial de Deus a ser estabelecido na terra com Cristo como rei. Esta tem sido a esperança dos fiéis ao longo dos tempos. Veja esta impressionante ainda que pequena seleção das Escrituras sobre este tema:
“Aquele que domina com justiça sobre os homens, que domina no temor de Deus, é como a l uz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva. Não está assim com Deus a minha casa(diz David)? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?” (2 Samuel 23:3 - 5)
“Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação.
Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra.” (Salmo 89:26 - 27)
“Julgue ele com justiça o teu povo e os teus aflitos, com eqüidade... salve os filhos dos necessitados e esmague ao opressor... Floresça em seus dias o justo, e haja abundância de paz até que cesse de haver lua... todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam... Subsista para sempre o seu nome e prospere enquanto resplandecer o sol; nele sejam abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado.”
(do Salmo 72)
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6 –7)
“A lua se envergonhará, e o sol se confundirá quando o SENHOR dos Exércitos reinar no monte Sião e em Jerusalém; perante os seus anciãos haverá glória.” (Isaías 24:23)
“Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém. Ele julgará entre os povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra.” (Isaías 2:3 – 4)
“Naquele tempo, chamarão a Jerusalém de Trono do SENHOR; nela se reunirão todas as nações em nome do SENHOR.” (Jeremias 3:17)
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.” (Jeremias 23:5 - 6)
“O SENHOR será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o SENHOR, e um só será o seu nome.” (Zacarias 14:9)
“Maria, não temas...Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.” (Lucas 1:30 - 33)
“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.” (Mateus 16:27)
“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória.” (Mateus 25:31)
“Quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram.” (1 Tessalonicenses 1:7 - 10)
“Porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apocalipse 5:9 - 10)
“Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.” (Apocalipse 20:6)
“O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos... Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar. Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, tanto aos pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra.” (Apocalipse 11:15 – 18)
Estas passagens devem ser lidas e relidas. Elas contêm tanto das promessas proféticas de Deus, especialmente aquelas dadas a Abraão e David. Cristo é o rei designado por Deus. Deus lhe dará o trono de David em Jerusalém; e no seu retorno à terra, Cristo reinará sobre o Reino de Deus na
terra no tempo em que a ressurreição e o julgamento terão lugar. Aqueles que receberem a imortalidade das mãos do Senhor Jesus Cristo, o Juiz, reinarão com ele no Reino de seu Pai na
terra.
Além disso, a partir das Escrituras, sabemos que o início deste reino terá lugar num momento de dificuldade mundial. O poder irresistível e justo de Cristo repreenderá o ímpio e removera a opressão entre as multidões da terra. A Pedra ferirá os reinos dos homens, a fim de acabar com a velha ordem mundial e trazer a majestade e bênçãos de Deus a um mundo de pecado e sofrimento.
(The Christadelphians, What they Believe and Preach por Harry Tennant, tradução para português: S.Mestre)